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O pão nosso de cada dia

Por Dra. Júlia Paula, especializada em Filosofia da EducaçãoMinha filha mais velha, hoje com 16 anos, foi dessas crianças ruins pra comer. Não comia nada. A impressão é que vivia de vento. Pra dar cinco colheradas (que era praticamente o máximo que ela comia por refeição) era quase 1h de histórias, brincadeiras, negociações... Ai, ai!Mas, tinha um alimento que ela adorava, que era ovo. Na época, a orientação dos nutricionistas era de que mais de um ovo por dia fazia mal, então eu ficava controlando pra ela não comer ovo no almoço, pro jantar poder ser mais fácil. Um dia, na hora do almoço, eu estava servindo o prato dela e ela insistindo que queria ovo. Eu perguntei: - Mas, filha, se você comer ovo agora, o que que você vai comer no jantar?- Ah, mamãe, arroz, feijão... _ aí ela parou, pensou um pouquinho e completou _ o ovo de amanhã.Hoje, trabalhando como orientadora da Meta Real, percebo que as pessoas engordam justamente porque comem mais do que o adequado para o dia de hoje, comem o ovo de amanhã...o pão de amanhã... o doce de amanhã.A cada dia nosso organismo metaboliza bem uma quantidade adequada de alimentos pra que o corpo se mantenha com saúde e sem engordar. Existe toda uma harmonia nisso. No entanto, se comermos a comida de amanhã... o corpo engorda! Pensando nisso me lembrei da oração do Pai Nosso quando diz: o pão nosso de cada dia nos dai hoje. Vemos aqui uma orientação muito clara: dai-nos a hoje o que é de hoje. A cada dia, a sua nutrição necessária. Sabemos que esse pão a que se refere a oração tem muitos níveis de significado e não apenas o físico. Precisamos de nutrição pra emoção, pro intelecto, pra alma, pro espírito... É preciso respeitar todas as nossas fomes e buscar o alimento adequado a cada uma delas. Também nesses outros níveis de nutrição vale o pedido da oração: a hoje, o que é de hoje. Em outras palavras, que sejamos capazes de nos manter ocupados no dia de hoje com o trabalho e os aprendizados de hoje. Sem pré-ocupações com o futuro, sem acrescentar cargas desnecessárias a um problema que pode ser simples, sem a compulsão – tão comum nos dias de hoje  –  de sermos o tempo todo multitarefas.
Mas, sabemos que vivemos em uma sociedade com excesso de estímulos e cobranças simultâneas e, pressionados por isso, tentamos nos adaptar e fazer mais do que é possível em um único dia.
A reação normal a esse excesso de informações e impulsos é uma espécie de obesidade mental, que se manifesta em uma fragmentação da atenção e gera pessoas distraídas, hiperativas, estressadas e ansiosas, com grande dificuldade de concentração. As pessoas obesas mentalmente, podem até ser magras fisicamente, mas a elas faltam limites e pausas, são incapazes de contemplação e silêncio. Portanto, temos que nos cuidar pra que nem nossos estômagos nem nossas mentes fiquem cheias do alimento de amanhã... E a solução é bem mais simples do que parece, consiste em vivermos concentrados no dia de hoje, momento a momento. O hoje, o momento presente, é o único dia que existe pra estarmos vivos. E essa é a receita pra ficarmos com corpo e mente saudáveis e magros, receita essa que, tudo que tem de simples, tem de profunda e grandiosa.

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